tag:blogger.com,1999:blog-20667472744871324012024-03-13T04:55:57.343-03:00blog do pontual (+18)O músico Carlos Pontual escreve o que lhe vêm à telha - ficção, crônicas, opiniões, críticas, ensaios, etcblog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.comBlogger145125tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-67368381772015515082018-03-15T15:07:00.001-03:002018-06-03T14:30:00.600-03:00mood switchescrevia um poema concreto<br />
aflito de imagens secas<br />
fui atingido por uma canção hippie<br />
uma canção hippie<br />
jogou seu véu lilás sobre mim<br />
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<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-85939800695880147022017-11-06T20:10:00.003-02:002017-11-06T20:10:57.546-02:00Nunca ImagineiNunca imaginei que chegaria a uma época da vida em que o dia começaria sempre com a leitura de um rolo interminável de opiniões de pessoas que não conheço pessoalmente<br />
Nunca imaginei que sonharia em azul pastel da plataforma do inferno, essa areia movediça do Vale do Silício cuja diretoria tem contas nas ilhas Jersey<br />
Nunca imaginei que estaria aqui reclamando que o telefone não toca, logo eu que sempre odiei essa merda<br />
Nunca imaginei que estaria aqui catando assuntos para postar em um blog que ninguém lê e será descontinuado no próximo upgrade<br />
Nunca imaginei que estaria vomitando desabafos em versos livres, como se fosse algum tipo de poesia mas que não passa de um diário adolescente que finge segredo mas clama por atenção<br />
Nunca imaginei que estaria com dores nos polegares e nos ombros, procurando vida sobre escombros de uma personalidade original, destruída por interferências externas<br />
Nunca imaginei que estaria empilhando metáforas metalinguísticas em loops autoreferentes<br />
Nunca imaginei que ainda estaria aqui nessa lesma lerda a essa altura do campeonato<br />
Nunca imaginei que seria assim tão chato<br />
Mas pelo menos não sou patoblog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-85302118603968234112017-09-25T16:53:00.000-03:002017-09-25T17:08:30.053-03:00AtalhoTinha um prazo de duas horas pra entregar o texto que era a última ligação com o mundo externo. Cancelara a tv a cabo e a assinatura no jornal. Todo dia pulava corda no sol matinal da varanda ouvindo Slayer ou James Brown ou Seleção de Sambas Enredo de 1980. Tinha 3 ex-namoradas que às vezes os visitavam para uma foda nostálgica seguida de conversas espirituosas nas quais detonavam cônjuges e exs. Uma de cada vez, com exceção de uma ocasião. Foi estranho, elas se conheciam da faculdade e nutriam uma antipatia mútua. "Universes must not colide", said George Costanza. (Check your fucking references) Mas não podia dizer que tinha sido ruim. Não, foi muito bom. Especialmente aquela olhada no espelho da porta do armário durante o ato. Sua memória aos poucos ia distorcendo os fatos e cada vez mais se tornava um momento incrível e um combustível melhor para punhetas. O médico recomendava 3 punhetas por semana, é bom para a próstata e aumenta a longevidade. Mas ele tinha mais o que fazer. Seu quarteto de cordas avançava em passos lentos. Já tinha uma página e meia. No ritmo que estava, ainda demoraria semanas para terminar. Mas agora essa porra da crônica pro jornal não podia esperar. Tinha duas horas. A editora era bem brava, um tesão de óculos e cabelos pretos presos. Não podia apelar pela terceira vez em um semestre para a metalinguagem. A merreca que pagavam valia também como uma forma de não esquecerem seu nome. Arrumou treta com todos, todos. De repente, um estalo: Podia falar de um artista solteirão chegando nos 50. Multitalentoso, alcançara alguma glória na casa dos 30 e vivia recluso desde que sobrevivera a um tiroteio em um banco no qual foi alvejado na perna, há dois anos. Não havia sequelas físicas além da cicatriz redonda na canela direita. Mas desde então, cada vez menos saía de casa. O dia em que era inevitável sair era antecipado e ensaiado mentalmente uma semana antes. Não gostava de usar elementos autobiográficos, achava uma espécie de trapaça, como trilha sonora em documentários. Mas desta vez não evitaria esse atalho. As palavras saíram fácil. Se ainda houvesse jornais escritos, seu texto veria a luz do sol na manhã de sexta. Mas hoje é tudo diferente. Pronto. SEND.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-33320633740960133952017-09-14T13:03:00.001-03:002017-09-14T13:04:30.526-03:00la la la longe - momento críticoOutro dia zappeando na tv, coisa cada vez mais rara, me deparei com o início do musical LA LA LAND. Resolvi conferir. Fiquei muito impressionado, achei uma grandessíssima bosta. Coreografias sem graça, atuações ok, cenário ok A história, não poderia opinar por que não aguentei nem 20 minutos. O que mais me deixou boquiaberto foi com a parte musical que aliás, dá o nome a esse gênero de entretenimento. A competência dos Estados Unidos nessa área é notória e tradicional. Os caras são foda. Mesmo em filmes e peças mais ou menos e até ruins, a música é sempre ótima. Vários standards do cancioneiro estadunidense foram feitos por encomenda para essas empreitadas e superaram em muito em fôlego e relevância o motivo da encomenda. Mas esse filme, desde o início, me deixou boquiaberto como suas melodias são simplórias, sem gancho. Harmonias óbvias. Os arranjos absolutamente desprovidos de qualquer veneno ou mesmo um mínimo interesse. A única coisa que acendeu uma luzinha foi um pastiche de Thelonious Monk que um dos protagonistas toca no piano por alguns segundos. Qualquer trecho da trilha sonora do desenho animado iconoclasta Family Guy dá de mil nessa porra, puta que pariu. Não guardei o nome do responsável e peço desculpas se houver alguém aí que trabalhou nisso lendo esse texto. Mas fiquei puto com essa porra. Dinheiro pra caralho e tem muita gente boa por aí, de várias idades e nacionalidades. Parece coisa de políticas de alcova de Hollywood. Sempre existiu mas nunca com tanto poder. La La Longe !blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-63634116577009788862017-09-13T08:26:00.000-03:002017-09-13T08:33:55.765-03:00personal poematic center velhinhas verdes com cachorros cinzas<br />
sentadas em bancos que imitam o banco da praça é nossa<br />
mas não é uma praça e não é nossa<br />
com a pós-modernidade não há quem possa<br />
vamos estar gastando<br />
vamos estar nos arrastando<br />
entre a praça de alimentação e o W.C.<br />
suprir na farmácia a deficiência de vitamina D<br />
enquanto o sol grita lá fora<br />
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blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-38063007357331405102017-09-12T08:29:00.002-03:002017-09-12T08:43:14.740-03:00Leiam Acredito piamente no poder benéfico que livros possuem. Não acho que todos devam compartilhar a obsessão que eu tenho por esses agradáveis upgrades táteis de memória. História, biologia, etc, tudo pode ser importante, mas destaco aqui livros de ficção. Ler histórias inventadas, com personagens que não existem na realidade, desenvolve a empatia. Ouvir a voz interna de um personagem. Seus problemas, seus erros e acertos. Entrar na mente do outro. Sair de si. Entender que existem no mundo coisas muito diferentes do que as que gostamos e estamos acostumados. Outras formas de pensar. Expandir o repertório de situações alheias ao nosso cotidiano. O poder libertador e curador das fantasias. Aceitar a existência da selva do subconsciente. Proteger-se contra interpretações de texto prontas, feitas por outros, muitas vezes com propósitos escondidos. Alegorias e metáforas não são manuais de como viver. O exercício da alfabetização e a prática da leitura realizam mudanças morfológicas no cérebro, que previnem a demência senil. É melhor ler livros ruins do que livro nenhum e a venda de porcarias pode bancar obras-primas sem poder de venda. Mas livros de auto-ajuda não nos fazem sair de nossa caixa. Nem tudo nos diz respeito, nem tudo é da nossa conta. Não gostar é diferente de querer proibir. Ler livros ajuda a concentração e ocupa o tempo de uma forma mais saudável do que cuidar da vida do outro. Empatia também serve para deixar para lá, isso não é da minha conta. A vida não é um algoritmo do Facebook que nos fecha em bolhas homogêneas de opiniões semelhantes. A vida não é lugar para fazer pirraça. Se não concorda com alguma coisa, estude História para ver de onde isso veio. O passado está aí para nos ensinar. Nada vem do nada.<br />
<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-46210776776698443832017-09-11T11:26:00.000-03:002017-09-11T18:56:24.975-03:00Presença de Espírito Do que li de Machado de Assis, o que mais me marcou - apesar de não lembrar o nome - foi um conto que falava de um discreto funcionário público recém-falecido, em cujos objetos encontrados por parentes no momento entre sua morte e o enterro, havia um diário. Este livreto, em vez de uma sequência de atividades e impressões cotidianas, era uma lista de parentes, amigos e conhecidos do falecido. Para cada pessoa nessa lista, havia uma descrição sucinta , precisa e implacável. Um parágrafo. Cada filho, primo, colega de trabalho, contraparente, amigo de infância etc Enfim, todos seus contatos mais próximos, menos de 30 pessoas. Seus filhos e primos encontraram o pequeno diário e um a um procurou a si mesmo na lista, além de ler as descrições dos outros. Quem fora infiel, quem era mau-pagador, quem era culto-de-almanaque, estava tudo ali. Sem afetação na descrição de defeitos e qualidades, um texto sem gordura. Tudo na mosca. Todos se entreolharam num misto de constrangimento pelas suas próprias descrições e um prazer um tanto sádico pelas descrições alheias. Logo ele, que era capaz de passar um longo almoço de família quase sem abrir a boca, apenas fumando seu cachimbo. Não era antipático, sorria com pequenos olhos de castor através da fumaça. Apenas falava pouco. Sua presença passava em branco, tinha o dom da invisibilidade. Mal sabiam o quanto ele percebia e guardava em si.<br />
No enterro, pouco se falou alto e muito se cochichou. O diário causara um efeito devastador nas impressões gerais anteriores sobre cada um dos presentes, quase todos descritos na lista. Santos caíram e falsos devassos ganharam uma nova luz. Optaram por destruir o perigosíssimo documento, mas o estrago já estava feito.<br />
Li esse conto apenas uma vez e não tenho certeza em que livro se encontra. Lembrar é recriar, peço perdão para os Machadófilos por alguma imprecisão. Tinha a fantasia de ser descoberto como um artista de grande talento após a minha morte prematura. Após enterrar dois grande amigos e parceiros musicais ainda na casa dos 40, e voltar de um checkup em que está tudo OK, contento-me em ser aquele cara que está sempre por aí e você nem percebeu. O tempo não passa para mim, talvez eu seja um vampiro. Se liga, estou prestando atenção em vocês. Mais com meus ouvidos do que meus olhos. O dom da invisibilidade não possuo, mas estou aprendendo a hipnotizar. Tenho tempo, muito tempo.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-21206518731273634162017-09-06T12:00:00.001-03:002017-09-06T12:01:33.654-03:00Por escrito Ele confessou seu amor. Preferia tê-lo feito em uma carta escrita à mão com toda a carga emocional da tinta e do baixo relevo impresso manualmente pela caneta, extensão de seu corpo, mas foi vencido pela praticidade do e-mail. Tinha acabado de levar um fora da destinatária e estava com os nervos à flor da pele. A indignação por ser sido dispensado à queima-roupa pelo telefone despertou emoções que nem sabia que possuía. Construiu castelos de sentimentos, falou desde quando se conheciam, de tudo o que ela representava para ele e tudo o que poderiam vir a ser. Rabiscou poemas, dedilhou sonatas ao piano enquanto soluçava para a lua cheia. Não tinha esperanças de que ela voltaria, queria causar culpa e um pouco de pena também não faria mal. E exibir seu estilo, sua verve literária. Sabia que tudo seria em vão e enfrentava aquela estrada de sofrimento com valentia e resignação e um pouco disfarçado deboche, rindo de si mesmo daquela situação ridícula. Sabia que ela tinha outros planos que não eram negociáveis e ele não estava incluído. Horas depois veio a resposta, implacável:<br />
- Poxa, você escreve direitinho. Já pensou em publicar contos? Fica bem. Beijinhos.<br />
<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-75343488027167884172017-03-06T12:13:00.002-03:002017-03-06T12:13:29.293-03:00ano novoO céu cinzento desta manhã não o permitia avistar o morro sem nome que costumava lhe dar algum alento só por estar ali. Suas árvores, seus pássaros, tantas vidas das quais não sabia nada. E suas pedras. Havia em especial uma pedra vertical que fazia um paredão que o fascinava. Não sabia por que sempre gostara de pedras. Pedras grandes e imóveis. Pedras milenares e árvores centenárias. Só elas importam. Nós estamos presos em timelapse, efêmeros e irrelevantes. O tempo é delas.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-64539353293011015962016-04-11T13:47:00.001-03:002016-04-11T13:55:47.413-03:00a coxinha e o petralhaa coxinha e o petralha, quem diria<br />
foram flagrados na cama<br />
entre tapas e beijos<br />
deram vazão a seus desejos<br />
champagne e tubaína<br />
mortadela e caviar<br />
ela virava os olhos e vociferava entre os dentes "me corrompe, seu comunista!"<br />
e o envolvia com suas pernas torneadas na academia<br />
ele roçava nela a pança de chope e dizia "sua entreguista, me dá mais!"<br />
e se embrenhava nas suas riquezas naturais<br />
<br />
<br />
<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-69002757731099625252016-03-28T23:58:00.002-03:002016-03-29T00:02:42.655-03:00luzinete não parava de cantarolar em bocca chiusa Luzinete não parava de cantarolar em boca chiusa. Eram improvisos em tom maior que pareciam hinos religiosos. Não tinham ritmo definido e não havia um padrão a ser reconhecido nas melodias. Eram notas jogadas em mmmm e nananana. Sempre alegres e vagos, cantados em uma espécie de transe, enquanto Luzinete cozinhava, lavava a louça e fazia a faxina da casa. Eu trabalhava na sala, tentando escrever ao piano. E não conseguia, os murmúrios vagamente alegres, induziam a uma hipnose como um cheiro vindo da rua, do qual não se podia fugir. Atravessava as frestas. Não poderia pedi-la para parar, eu estava morando de favor. Não era eu quem pagava seu salário. E quem sou eu para pedir para uma pessoa não cantar enquanto trabalha? Não seria capaz de tamanha crueldade. Mas era chato pra caralho, puta que pariu! Não adiantava fechar a porta, sua voz de contralto era potente. Tinha um timbre bonito e era extremamente afinada, o que tornava mais difícil ainda qualquer represália. Era enlouquecedor. O dia inteiro esse murmúrio atravessando as paredes por toda a casa. Ah, Luzinete. 16h ela vai pra casa. Não vou conseguir fazer nada. Vou pro bar.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-2739188729269850912016-03-28T23:42:00.005-03:002016-03-28T23:44:30.737-03:00empresa de pesquisaImagina ter o seu imaginário, os assuntos que te atraem, o tempo e o espaço na sua cabeça, tudo isso, dirigido por uma empresa de pesquisa.<br />
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Isto está acontecendo AGORA.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-76536097194513171082015-11-03T19:17:00.000-02:002015-11-03T19:17:01.602-02:00puro sentimentoesta manhã me levantei<br />
pensando na sua pessoa<br />
não havia amor perdido<br />
não havia paixão à toa<br />
era uma coisa boa<br />
um sentimento puro<br />
depois de sonhar com você<br />
acordei de pau duroblog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-2982255452704540972015-10-27T11:55:00.003-02:002015-10-27T13:11:46.704-02:00contrastesfalam que sou fino<br />
falam que sou grosso<br />
tempestade é destino<br />
calmaria, alvoroçoblog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-26178891310451133672015-10-23T14:15:00.002-02:002015-11-03T20:15:34.464-02:00yo check this AWESOME!!!!!<br />
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<a href="https://vimeo.com/141289099">https://vimeo.com/141289099</a><br />
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a carteira tá vazia mas o ego deu uma inchadinha<br />
<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-19701980844059093112015-10-22T08:30:00.000-02:002015-10-22T09:03:31.401-02:00Besouro Preto - Cap.3 Cinco horas da manhã passa o caminhão de lixo. Zé, ao volante, não percebeu que o tranco vindo da traseira do veículo significava algo que não poderia imaginar nem nos seus piores pesadelos. Seguiu até o lixão. Como de costume gritava para seus colegas mas desta vez eles não respondiam nem apareciam no retrovisor, pendurados e sorridentes em seus uniformes laranja. Achou estranho mas estava no meio de uma crise, trocando mensagens com a amante, que exigia uma ajuda mensal se não "ia contar tudo". Ao chegar no lixão clandestino, levantou a traseira do veículo para descarregar o lixo. O cheiro não o incomodava mais. De manhã cedo era um pouco mais sossegado, o sol suave da manhã ainda não potencializava tanto o fedor.<br />
-E aí, galera, que porra é essa? Cadê vocês?<br />
Saiu do caminhão para conferir o que estva acontecendo. Foi seu último erro. As larvas-tentáculo, cada vez maiores, o atacaram vindo de todas as direções. Elas não entravam mais pela boca, estavam muito grandes para isso. Engoliram seu corpo, em questão de segundos. Cabeça, tronco e membros. As outras seguiram para o lixão. Com a quantidade de alimento ali, em poucos dias atingirão a idade adulta. Já ensaiavam os primeiros passos para a independência de cada uma. São quatorze no total. Os catadores de lixo viram algo assustador de longe e começaram a correr. Mas não adiantava. Elas são rápidas e estão com fome. O banquete se inicia.<br />
(cont.)blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-75553060664609095872015-10-16T09:33:00.001-03:002015-10-16T12:05:49.261-03:00Plano Perfeito O plano era perfeito: através da mentalização hiper-concentrada, fruto da obsessão judaico-cristã ocidental, meu espírito sairia durante o sono. A missão, motivo e meio da empreitada, seria invadir os sonhos de Isabel. Como um Íncubo, penetrar seu subconsciente e implantar a minha presença repetidamente. Noite após noite ela sonharia comigo e acordaria pensando em mim. Não tem como dar errado, o cérebro humano é uma usina de energia, pode acender lâmpadas e movimentar objetos. Pode ler pensamentos e levitar. Pode criar mundos e multiplicar sua unidade. Clones de Almas.<br />
Meu treinamento foi simples: toda noite eu pensava nela com força. Lembrando momentos, frases e principalmente seu rosto. O belo rosto de Isabel. Marcante e angular, poderia ter seguido carreira de modelo. Chegou a fazer ,ainda adolescente, uma sessão de fotos a convite de uma agente que a viu no shopping. Mas não conseguiu se concentrar, achava ridículo posar, fazer cara de paisagem. Começava a rir ou fazer careta. Isabel adorava fazer careta. Deve adorar ainda, mas agora longe de mim. Muito longe. Sua carreira acadêmica a levava a lugares cada vez mais distantes e exóticos. Sem mim. Já faz três meses que ela fugiu com aquele professorzinho de merda. PHD, grande coisa.<br />
Era fácil pensar nela com força antes de dormir, já que eu fazia isso o dia inteiro. Desemprego não é sexy. Coloquei em prática meu plano por um mês com afinco. Ela acordaria ao lado do PHDzinho de merda, só que pensando em mim. Tomaria café lembrando de nossos momentos. Mentalização tem poder. Daí para voltar para mim seria um pulo.<br />
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Julio acordou cedo naquela manhã cinzenta e aproveitou para fazer a mesa do café da manhã. Lia o jornal quando Isabel chegou sonolenta e sentou-se à mesa. Julio recebeu-a com um sorriso:<br />
-Bom Dia, meu amor.<br />
-Bom Dia.<br />
-Dormiu bem? Você parece cansada.<br />
-Tive um pesadelo horrível.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-76450188686663532922015-10-15T10:50:00.000-03:002015-10-15T10:50:32.201-03:00Girando no espaço Um roda gigante do tamanho de um estádio de futebol girando no espaço. Abandonado há milhares de anos, um shopping center espacial em ruínas é a última recordacão de uma civilização extinta. As entradas para os estacionamento permanecem abertas, como se ainda esperasse clientes. Pedaços de meteorito colidem em câmera lenta com as paredes. Algumas lojas ainda tem a luz acesa por alguma tecnologia de geração de energia que sobreviveu muito tempo a seus criadores, sem nenhuma testemunha posterior de suas glórias. Containers e objetos incompreensíveis flutuam lado a lado eternamente em um ballet absurdo.<br />
Até que um dia foi encontrada.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-77319355850673228792015-09-29T22:06:00.001-03:002015-09-30T09:54:49.458-03:00Tomás Improta - A VOLTA DE ALICE - making of - 1<a href="https://www.youtube.com/watch?v=v5hMSaq9UIc&feature=youtu.be" rel="nofollow" style="background-color: white; color: #3b5998; cursor: pointer; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px; text-decoration: none;" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=v5hMSaq9UIc&feature=youtu.be</a><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;"> </span><br />
<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;">Tive a honra e o prazer de assinar a Produção Musical do disco novo de Tomás Improta que será lançado este semestre.</span><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/v5hMSaq9UIc" width="480"></iframe><br />
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<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-32067240265342218382015-09-29T07:51:00.002-03:002015-09-29T09:05:19.207-03:00Besouro Preto Cap.3 Maria Antônia subia o morro de motoboy, pensando em como dizer à sua mãe que tinha sido despedida. Antes de passar pela caçamba de lixo ao lado do parquinho, notou que o formigueiro parecia maior do que ontem. Desde criança gostava de observar insetos, pediu para descer ali mesmo. Faria o resto do trajeto à pé, depois de dar uma olhada no formigueiro. Pagou o motoboy e o viu se afastar. Catou um graveto do chão. Quando estava quase encostando o graveto no formigueiro, dezenas de larvas-tentáculo explodiram as paredes do formigueiro e avançaram em sua direção. Ela soltou um grito que foi rapidamente abafado quando entraram pela sua boca em uma velocidade estonteante. Ninguém viu, já era de noite e o formigueiro ficava atrás da caçamba . As larvas-tentáculo rodopiaram e devoraram suas entranhas fazendo um som de um cardume de piranhas atacando um boi. Ela só pode arregalar os olhos nos seus últimos segundos de vida. Deixaram a pele, os cabelos e as roupas. Estavam bem maiores agora. Serpentearam para dentro da caçamba, que exalava um cheiro forte de gato morto. <br />
(continua)blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-15760962565094529352015-09-28T10:34:00.000-03:002015-09-28T14:10:29.899-03:00lembraram do céu azulEntre escombros futuros<br />
reconhecer-se-ão de longe<br />
sorrisos constrangidos<br />
-vamos tomar um café?<br />
mas não existem mais cafés<br />
ela ajeitará os cabelos atrás da orelha direita<br />
ele coçará a nuca<br />
ontem teve eclipse<br />
o primeiro pós-apocalipse<br />
lembraram do céu azul<br />
dizem que teve uma colheita no sul<br />
assuntos pretextos<br />
momentos bissextos<br />
bate rebate coração<br />
combinarão de se telefonar<br />
mas não há mais operadoras de celular<br />
no lugar das antenas, buracos no chão<br />
fila da água<br />
fila do pão<br />
roupas rasgadas<br />
fogueira de violão<br />
-nossa, tão bom te ver<br />
-tão bom te ver também<br />
-a noite já vem, ficar na rua é perigoso<br />
-tem razão<br />
despedem-se como se fosse ainda o tempo da fartura<br />
cada um pro seu lado<br />
respectivos abrigos lotados<br />
o acaso cruzará seus caminhos outra vez<br />
<br />
ou não<br />
<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-16079307803781652712015-09-25T08:19:00.001-03:002015-09-25T08:20:13.762-03:00língua inventadacomo forma de vingança<br />
apelava ao silêncio<br />
ainda que por extenso<br />
este não se aplicasse<br />
como se gritasse pelas pontas dos dedos<br />
uma coleção de segredos<br />
em uma língua inventada<br />
que ninguém entendia nada<br />
<br />blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-24722533777359064452015-09-24T08:15:00.000-03:002015-09-24T08:16:21.270-03:00Besouro Preto Cap.2 A noite veio com chuva. A umidade é boa, o Fungo agradece. Rainha-Mãe gosta e sorri vibrando suas antenas. Não daria ouvidos para o pedido de encontro do Guerreiro Ancião. Já sabia o que ele iria dizer. O Besouro Preto, a Lenda, o Egito, os Extraterrenos. Conhecia aquela história muito antes de comer a Geléia Real e começar a crescer. Sua Missão era parir e gerir mentalmente seus filhos. Mas o Guerreiro Ancião era mais velho do que ela, tinha nascido de sua antecessora. Não podia ser controlado, então era subornado com mimos exclusivos. Havia funcionado até hoje.<br />
FFP continuava insistindo em uma audiência com a Rainha-Mãe. Os assessores e guardas não levavam a sério aquele velho, mas respeitavam suas história, se não ele já teria sido preso ou até sacrificado. O Besouro Preto era Pré-Alimento de qualidade, não havia com o que se preocupar.<br />
O Depósito de Pré-Alimento estava quase lotado. Era uma Comunidade Próspera. O primeiro sinal de que algo estava estranho foi quando a carcaça do Besouro Preto começou a vibrar, quase imperceptivelmente. Enquanto isso , no céu, a chuva começava a rarear. A Lua Cheia logo estaria à vista, de trás de nuvens de algodão desfiado. A carcaça vibrava cada vez mais rápido. O Guarda na porta nem desconfiava. De Repente a vibração parou e a carcaça foi rompida em um só golpe de dentro para fora por mil tentáculos brancos, que pareciam larvas. Os tentáculos se espalharam rapidamente pelo depósito inteiro. Eram Larvas. A Carcaça começou a crescer. Os tentáculos se soltam e tomam vida própria, forçando os portões do depósito. O guarda percebeu um som estranho vindo do depósito. Foi conferir o que acontecia. Foi a primeira vítima. Um dos Tentáculos-Larva o engoliu rapidamente e seguiu em frente pelo corredor. A Rainha sentiu. (continua)blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-18009562811588344002015-09-23T11:41:00.000-03:002015-09-23T11:42:08.799-03:00Besouro Preto - cap.1 O Besouro Preto morreu de velhice. Bateu no prazo de validade marcado em seu DNA. Ele simplesmente parou de andar segundos antes de alcançar a parede do quarto. Três minutos depois, a primeira formiga, o batedor de identificação YYZ-567800, atraída pelo cheiro, se aproxima e encosta suas antenas ao longo do corpo. Confirmado. Enviando sinais para a Equipe de Resgate de Pré-Alimentos. Em 15 segundos chegam começam o trabalho. O Besouro Preto - que deixa família, viúva grávida de 350 filhos - é eficientemente desmontado membro a membro. Patas, antenas e asas. Dependendo do tamanho da peça, é carregada individualmente ou em grupos de até 3 formigas. A carcaça restante depois é carregada pela subequipe 93, composta de 36 formigas robustas, criadas à base de uma mistura fortificante especial para os carregadores. A Rainha já recebia os sinais da operação em andamento. Estava satisfeita. A Equipe 17 era extremamente eficaz, destaque na comunidade. Era uma operação tranquila, não havia nenhum animal doméstico naquela casa, que no momento estava sem nenhum humano. A próxima chegada estava prevista para daqui a 5 ciclos. Mas eles tinham um alto padrão para manter, todos estavam sendo monitorados para uma possível promoção. Operações Externas de Alto Risco. O risco era maior, assim como o prestígio. E havia a vantagem da nova dieta, MindFuller 57, que operava mudanças externas e internas no indivíduo. Aumento de massa muscular, aumento de Q.I. e aumento de cota de alimentação. Uma provável diminuição do tempo de vida, mas valia a pena.<br />
Havia poucos anciãos sobreviventes da Equipe de Operações Externas de Alto Risco.O mais respeitado era FFP-002301, que chegara a conquistar uma toca individual e alimentação a domicílio. Um Herói. Tinha sido o líder do histórico resgate de um gato morto no meio fio, em plena rua. A operação envolveu 15 mil formigas e durou uma semana, sem descansp. Rodízio de 4 equipes. FFP ficou ligado direto, a base de ANFETONOSOL. Era uma rua em uma favela, não havia retirada de lixo. Mas muita gente passava por ali, era perto do lixão. Muita competição por aquele tesouro. A equipe de resgate precisou terceirizar a defesa com Saúvas Mercenárias, essenciais para garantir o transporte seguro do Pré-Alimento , que gerou Fungo para a comunidade por um semestre inteiro.<br />
Mas havia algo diferente naquele besouro. Sua linhagem milenar vinha do Egito e suspeitava-se de conexões extraterrenas. Havia lendas que corriam à boca pequena. FFP, ao saber que traziam um Besouro Preto para a Comunidade, tentou marcar uma sessão com a Rainha. Mas ela estava ocupada com a expansão das Dependências e precisava urgentemente de Fungo para sustentar o aumento de trabalho com as Obras de escavação. Não tinha tempo para um velho cheio de manias, muito menos dar ouvidos a lendas populares. Este foi seu grande erro. (continua)blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2066747274487132401.post-81643586925886380242015-09-22T09:02:00.000-03:002015-09-25T09:02:21.811-03:00Flash Urbano n. 16 - padaria e portão Esperava na padaria da esquina, tomando um café o mais lentamente que pudesse. Seus aliados eram seus óculos escuros, dois jornais de oposição e uma revista governista. O calor já dava sinais de que iria se tornar insuportável a qualquer momento mas ele insistia em calça comprida, sapatos e uma camisa preta. Sua mesa estava em um canto sob o toldo, ao lado de uma mesa desocupada, felizmente. Para fazer passar o tempo que precisava esperar, adotava a técnica de fazer os pedidos um a um. Primeiro: café. Segundo: Pão na chapa. Terceiro: suco de laranja. Quarto: outro café. Já são 9:30. Não deve demorar muito. A moça que o servia não se esforçava nem um pouco para disfarçar sua reprovação ao esforço excedente que a causava. Vingava-se ignorando seus pedidos até que ele levantasse e sacudisse os braços compridos de uma forma estranhamente espalhafatosa para um homem de meia-idade. Aí a moça vinha, quase bufando. Velho folgado. Final Libertadores. Emmy. 9:38. Estava funcionando. Abre-se a porta do prédio antigo sem elevador que ele observava do outro lado da rua de trás dos óculos escuros . Finalmente! Eis que sai um aposentado de bermudas com um poodle grisalho. Ainda não. Será que ela não vai ao trabalho hoje? Terei que voltar amanhã. Governo anuncia aumento de impostos. Estréia de exposição de Matisse. 9:47. Pode estar atrasada hoje, apesar de não ser do seu feitio. A porta branca abra outra vez. É ela. Vestido florido e cabelo molhado. Perfeita. Está atrasada. Desce a escada com pressa. Ela vai a pé ao trabalho todo dia com suas belas pernas. Pisando na ponta dos pés. Continua linda. Passa quase correndo pela padaria do outro lado da rua. Não nota seu observador. Não nota que todos olham ao vê- la passar. Vamos,vamos, já passa da hora. Vai, linda, vai cuidar da sua vida. Ele só teria sua agonia para lhe oferecer.blog do pontual (+18)http://www.blogger.com/profile/00804539467978748860noreply@blogger.com0