domingo, 22 de maio de 2011

Colônia Juliano Moreira -1989 - BISPO

  Ao ler o impressionante relato de Lima Barreto n'O Cemitério dos Vivos sobre sua internação por alcoolismo no Pinel da Praia Vermelha,minha memória reacendeu:
 Lá pelos idos de 1989 eu tinha 17 anos e estava entre a música e o cinema. Fazia um curso no Parque Lage de cinema e vídeo. E rolou ,extra-curricularmente, uma visita na Colônia Juliano Moreira para filmar o acervo do então recém-falecido Arthur Bispo do Rosário,genial artista plástico -e esquizofrênico-que criou todo um universo próprio no seu quarto na Colônia ,na qual foi interno por décadas. Como tinha -e tenho - mão firme e ,digamos assim,algum discernimento conceitual,fui chamado para fazer a câmera. Sim,eu vi toda a sua obra emocionante entulhada em um quarto mofado,meses antes de ganhar todo o reconhecimento que veio a ter meses depois. Passamos o dia inteiro lá em Jacarépaguá,zona oeste do Rio de Janeiro.
   É muito impressionante a missão à qual ele se comprometeu,de traduzir o mundo na sua obra. Sem reconhecimento algum em vida. Diz muito a nós artistas.O que nos faz enfrentar essa vida tão insegura? De onde vem essa certeza?
   A maioria dos internos andava solta pelos jardins . Impressionou-me muito como as características de cada um são exacerbadas ao nível da caricatura. A manutenção de uma expressão facial por anos vai transformando o rosto  Parecia um quadro de Bosch . Os comportamentos também. O recluso não abria boca. O expansivo não parava de falar. Um deles,um senhor na casa dos 60,que nos seguia e puxava assunto toda hora,com seu sorriso desdentado e uma tosse de cachorro. E os cigarros. Todos pediam cigarros ao ver gente de fora. Todos. O cigarro ganha um valor na reclusão que nós de fora nunca entenderemos. Na cadeia ele chega a ser moeda.
 No fim do dia,chegamos a dividir o refeitório com os internos. Um sentava no chão e se comportava como um neném.  Outro tinha uma expressão vazia de um peixe. Um,paranóico,olhava desconfiado para todos os lados,entre cada colherada.
  O material filmado,não sei que fim levou. Pouco depois cheguei a reconhecer algumas imagens que fiz em uma exposição. Sem crédito,é claro. E ficou por isso mesmo.
  Bispo dedicou sua vida à sua obra,que tinha a missão de salvar o mundo.O que ele conseguisse representar,estaria a salvo. Ele usava tudo o que chegava às suas mãos: roupas velhas,lencóis, copos de plástico,lixo, palitos de fósforo,canetas,tudo. Espero que tenha conseguido.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

satisfações

 Estou lendo um livro de Lima Barreto -que eu acho muito foda- que está despertando memórias adormecidas há muito tempo. O processo já está instauraddo no subconsciente. Daqui a pouco eu boto pra fora.
 Somemos isso à minibio que está sendo curtida em outro compartimento de meu cérebro.
 Eu vou ali e já volto.

sábado, 7 de maio de 2011

exercício n.1

a cama boa apesar do espaço sobrando
o dia muito frio ,o café quente demais
o jornal parecia de outra língua
o relógio se arrastando
a faxineira da frente me estranhando
o papelzinho com seu nome e telefone foi pra máquina de lavar
as contas não param de chegar por debaixo da porta
biografia é fantasia,
memórias são ficção
passando manteiga no pão
eu penso na vida que também passa
e nos puxa pela mão

segunda-feira, 2 de maio de 2011

re...

recomeçando-renovando-reorganizando-reciclando-reaprendendo
reerguendo-revigorando, falou o retranqueiro

reclamando repetindo revelando