quinta-feira, 30 de junho de 2011

em busca do não sei o que 5

   De repente como um teletransporte estou no pé-sujo perfeito. Um balcão oval permite uma visão geral que muito me inspira. São 22:45 de uma terça-feira congelante. A 45 graus para a esquerda do outro lado do balcão há um casal pouco encasacado e absolutamente bêbado . Ele , arrisco que trabalha na construção civil . Ela,não faço a menos ideia. Interessante,eles são bem parecidos. Será que são parentes? Trocam confidências no pé-do-ouvido entre risadinhas e goles de conhaque de alcatrão São João da Barra. Está na hora de pegar meu moleskine do bolso. Puta Merda,esqueci. É claro,justo hoje. Não importa,vou absorver esta experiência. Tenho que deixá-la maturando. É meu passaporte para a Literatura. A vida. Hemingway já dizia. Não,não posso citar nomes. No Namedropping.   Se eu começar com isso,daqui a pouco estou contrapondo métodos diversos de ícones da Literatura. Fulano fazia assim,já Sicrano fazia assado. Não,tenho que fazer do meu jeito. Encontrar a minha voz. Nada disso de ficar em casa na internet. A vida está aqui fora. Vou me livrar do meu celular,vou andar de ônibus.
   Eis que chegam dois PMs,estilo Cosme &Damião. Estão me encarando e cochichando. Estou muito louco ou um deles me pisca o olho? Não,peraí. Isso é demais pra mim. Vou pra casa. Táxi!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

é ficção ! é ficção! 1

 A geladeira está uma tristeza:
-Um resto de manteiga Aviação;
-Suco de caju;
-Uma Skol.
  Cortaram a luz,o telefone e o gás. O condomínio está atrasado dois meses. A síndica ,que é minha vizinha de porta,começou a sua rotina diária de cantar músicas evangélicas. De vez em quando ela começa a falar alto sobre um vizinho "perdido" que tem que ser purificado e não merece o reino dos céus. Talvez ela esteja falando de mim. Se é pra lá que ela vai,ótimo. Quero estar longe. De vez em quando ela solta um palavrão. Depois ela fica com sentimento de culpa e medo de perder o vale-paraíso e começa a cantar com mais convicção ainda. O que ela não sabe é que a filha dela de 20 anos,muito jeitosinha,diga-se de passagem, volta e meia bate aqui na porta quando ela sai de casa. Já pediu açúcar,sal,pó-de-café e até já pediu para entrar. Sempre com roupas muito respeitosas,mas com dois botões da blusa sutilmente abertos.Eu sempre digo não. Mas hoje eu não sei . Parou a música. Bateu a porta da vizinha e a síndica sai cantando. Dez minutos depois,toca a campainha.

domingo, 26 de junho de 2011

copacabana palace anos 50

   No trecho daquela balada em que levanta o naipe de saxofones aproveitei o efeito das duas cuba-libres e arrisquei um beijo . Ela a princípio recusou,ma non troppo. No início do solo de trombone com surdina ela finalmente me cedeu seu lábios. Valeu a pena pegar dinheiro emprestado para alugar o smoking.

em busca do não sei o que 4

  Dois dias depois a ideia do romance ainda me perseguia. Eu preciso de concentração. Preciso de uma máquina de escrever Remington. Ou Olivetti. Muito mais inspirador aquele tlec tlec da geringonça de metal. E as correções a caneta? Isso sim é Literatura. O café na xicará velha com a borda rachada,o cigarro no cinzeiro,as contas atrasadas debaixo da porta. E o lobby editorial? Que beleza!Os almoços em restaurantes caros onde o suspense sobre quem pagará a conta tempera a refeição com uma tensão trincante que aumenta a concentração na estratégia. Ah, o público-alvo,este animal imaginário que nos assombra nos
domingos de madrugada!

sábado, 25 de junho de 2011

Cuidado!

Cuidado! Escrever na primeira pessoa sempre traz o risco de acharem que é autobiográfico.
E usar de ironia podem achar que você está falando sério. Mas como dizia a senhora sua avó,"Quem não arrisca....."
Além do mais,é divertido misturar as coisas. Aliás,eu nem devia estar explicando nada.

em busca do não sei o que 3

   O primeiro boteco que apareceu não atendia às especificações da minha fantasia: era muito limpo. Tenho que andar mais. Quero um bar com gente mais feia,com dentes em pior estado. É isso que eu preciso para o meu romance. Vou falar sobre o submundo, as cachaças vagabundas , as putas de rua e os alcoólatras sem dinheiro. Vou falar sobre os sonhos derramados na pia e os amores sujos da Boca do Lixo. Já está tudo pronto na minha cabeça, só falta botar no papel. Eu nem precisava fazer pesquisa,mas acho que circular in loco pelo ambiente do qual quero falar  vai trazer mais veracidade às minhas impressões. Além de poder ouvir conversas alheias,essencial para a criação artística.
   Três quarteirões depois,aparece o bar perfeito. Não tinha azulejo português nem azulejo nenhum. As paredes eram de um verde escuro piscina suja .Não tinha cerveja Serra Malte .Aliás,um apoio dessa marca seria bom para o lançamento,tenho que ver isso. Pedi uma Brahma mesmo. Tinha três pessoas além de mim. O primeiro ,um caboclo com uns cinquenta e tantos anos com um boné cinza ,bebia cachaça sozinho e,pelo seu estado,já há algum tempo. Será que eu puxo assunto? Eis que toca meu telefone celular,esse aparelho dos infernos que nos desconcentra nos momentos mais puros. Minha mulher quer saber onde estou e é pra eu voltar logo pra casa agora.
-Tá bom ,meu amor,já estou indo.
   Lá em casa é assim,a última palavra é sempre minha.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

em busca do não sei o que 2

  É hoje o início da minha jornada de preparação para o meu romance. Não escolhi previamente nenhum bar . O acaso me levará para o primeiro pé-sujo. Está frio,mas não quero passar a ideia de que eu faço parte de uma classe social muito diferente dos outros clientes dos bares que frequentarei. Então o meu casaco de couro da Replay está fora de questão. Se bem que vi muitos motoristas de táxi com casacos de couro muito mais caros do que o meu. Aliás,se eu tivesse que comprá-lo,não o teria. Está bem acima do que posso pagar agora,que é pouco mais do que nada. Ganhei de presente,mas isso não vem ao caso .
  Separei meu moleskine e duas canetas bic. Meu celular filma e tira foto. Preciso de bolsos. Vou de casaco de couro mesmo. Não adianta,eu não tenho cara de povo. Estou pronto. Avisei minha mulher que ia fazer pesquisa para o meu livro. Ela respondeu algo debochado sem tirar os olhos da série policial que passava na Tv de Lcd no meio da sala. Creio ter ouvido algo como "Que livro?"
  Pois é,não tenho menor ideia.
Depois de refletir com sangue frio,decidi dobrar à esquerda. O futuro me aguarda.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

em busca do não sei o que 1

  Aquele manual dizia para evitar escrever na primeira pessoa. Que se foda. Nunca gostei de manual. Se sou eu mesmo ou um personagem é um detalhe menos importante.   O fato é que há meses a ideia de escrever um livro me perseguia. Voltava várias vezes por dia,me acordava no meio da noite. Mais do que uma ideia para um romance,eu imaginava a preparação,que seria perambular por bares ,de preferência pé-sujo. Sinto falta dos azulejos portugueses que tem em qualquer boteco fuleiro no Rio. Não tem disso aqui em São Paulo. Em compensação,aqui tem Serra Malte. E um frio com um quê de europeu , um incentivo à instrospecção e à observação antropológica. Sobre o que eu escreveria? Não importa. Sempre temos a metalinguagem para apelar,não é mesmo?
  Já tenho algumas regras:
1- evitar sinônimos em sequência,eles sugerem sutilezas e gradações inexistentes;
 2- evitar adjetivos ;
 3- evitar metáforas ;
 4-evitar namedropping;
 5-evitar regras .

Sim,eu adoro paradoxos.

Já é um começo.

minimusicbio 1

tive muitas aulas e só deu pra falar disso agora
 
   Me lembro de tirar de ouvido a melodia de "Contatos Imediatos" no piano. Minha mãe me disse que me botaram na aula de piano e iniciação musical na Pro-Arte quando eu tinha 4 anos. Eu sou de 72,então eu tinha 4 em 76. Creio que o filme Contatos imediatos é de 78. Bom,deixa pra lá. O fato é que foi cedo. Mas só durou uns seis meses,parece. Meus interesses eram mais desenhar e depois ,escrever. Talvez se eu não viesse a me tornar um músico,teria virado quadrinista.
   Com 10 anos,voltei ao piano e comecei também aulas de flauta doce. Mais uma vez,duraram alguns meses. Desta vez um pouco mais ,quase um ano. Aí,com treze ,me interessei pelo violão. Aliás,todos esses instrumentos já estavam em casa.Meu pai é músico talentoso. Não é profissional por que não quis. Então eu podia experimentar os instrumentos antes de querer ter aula. Meus pais realmente me deram força com as aulas de música. Nunca me negaram o que pedi para estudar. Tive aulas particulares de um monte de coisa: violão,piano,flauta,percepção,harmonia,guitarra,arranjo etc e depois quando entrei na faculdade de música (Composição) da Uni-Rio estudei mais coisas ainda:harmonia avançada,contraponto,percussão,canto coral etc Estudei pra caralho essa porra. Mas saí da cronologia,vamos voltar:
   Aos 13 anos comecei a ter aulas de violão e não parei mais de tocar. Baixo,aprendi sozinho. Bateria,também, ma non troppo.

ah,depois eu continuo.

obrigado
até a próxima

sábado, 11 de junho de 2011

ezercissu matinau

Estava frio mas o café estava quente
estava sozinho mas pensei na gente
estava de manhã cedo mas já era tarde demais