terça-feira, 27 de outubro de 2015

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Besouro Preto - Cap.3

   Cinco horas da manhã passa o caminhão de lixo. Zé, ao volante, não percebeu que o tranco vindo da traseira do veículo significava algo que não poderia imaginar nem nos seus piores pesadelos. Seguiu até o lixão. Como de costume gritava para seus colegas mas desta vez eles não respondiam nem apareciam no retrovisor, pendurados e sorridentes em seus uniformes laranja. Achou estranho mas estava no meio de uma crise, trocando mensagens com a amante, que exigia uma ajuda mensal se não "ia contar tudo". Ao chegar no lixão clandestino, levantou  a traseira do veículo para descarregar o lixo. O cheiro não o incomodava mais. De manhã cedo era um pouco mais sossegado, o sol suave da manhã ainda não potencializava tanto o fedor.
  -E aí, galera, que porra é essa? Cadê vocês?
  Saiu do caminhão para conferir o que estva acontecendo. Foi seu último erro. As larvas-tentáculo, cada vez maiores, o atacaram vindo de todas as direções. Elas não entravam mais pela boca, estavam muito grandes para isso. Engoliram seu corpo, em questão de segundos. Cabeça, tronco e membros. As outras seguiram para o lixão. Com a quantidade de alimento ali, em poucos dias atingirão a idade adulta. Já ensaiavam os primeiros passos para a independência de cada uma. São quatorze no total. Os catadores de lixo viram algo assustador de longe e começaram a correr. Mas não adiantava. Elas são rápidas e estão com fome. O banquete se inicia.
(cont.)

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Plano Perfeito

    O plano era perfeito: através da mentalização hiper-concentrada, fruto da obsessão judaico-cristã ocidental, meu espírito sairia durante o sono. A missão, motivo e meio da empreitada, seria invadir os sonhos de Isabel. Como um Íncubo, penetrar seu subconsciente e implantar a minha presença repetidamente. Noite após noite ela sonharia comigo e acordaria pensando em mim. Não tem como dar errado, o cérebro humano é uma usina de energia, pode acender lâmpadas e movimentar objetos. Pode ler pensamentos e levitar. Pode criar mundos e multiplicar sua unidade. Clones de Almas.
     Meu treinamento foi simples: toda noite eu pensava nela com força. Lembrando momentos, frases e principalmente seu rosto. O belo rosto de Isabel. Marcante e angular, poderia ter seguido carreira de modelo. Chegou a fazer ,ainda adolescente, uma sessão de fotos a convite de uma agente que a viu no shopping.  Mas não conseguiu se concentrar, achava ridículo posar, fazer cara de paisagem. Começava a rir ou fazer careta. Isabel adorava fazer careta. Deve adorar ainda, mas agora longe de mim. Muito longe. Sua carreira acadêmica a levava a lugares cada vez mais distantes e exóticos. Sem mim. Já faz três meses que ela fugiu com aquele professorzinho de merda. PHD, grande coisa.
    Era fácil pensar nela com força antes de dormir, já que eu fazia isso o dia inteiro. Desemprego não é sexy.  Coloquei em prática meu plano por um mês com afinco. Ela acordaria ao lado do PHDzinho de merda, só que pensando em mim. Tomaria café lembrando de nossos momentos. Mentalização tem poder. Daí para voltar para mim seria um pulo.

   Julio acordou cedo naquela manhã cinzenta e aproveitou para fazer a mesa do café da manhã. Lia o jornal quando Isabel chegou sonolenta e sentou-se à mesa. Julio recebeu-a com um sorriso:
-Bom Dia, meu amor.
-Bom Dia.
-Dormiu bem? Você parece cansada.
-Tive um pesadelo horrível.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Girando no espaço

    Um roda gigante do tamanho de um estádio de futebol girando no espaço. Abandonado há milhares de anos, um shopping center espacial em ruínas é a última recordacão de uma civilização extinta. As entradas para os estacionamento permanecem abertas, como se ainda esperasse clientes. Pedaços de meteorito colidem em câmera lenta com as paredes. Algumas lojas ainda tem a luz acesa por alguma tecnologia de geração de energia que sobreviveu muito tempo a seus criadores, sem nenhuma testemunha posterior de suas glórias. Containers e objetos incompreensíveis flutuam lado a lado eternamente em um ballet absurdo.
     Até que um dia foi encontrada.