quinta-feira, 24 de julho de 2014

Eva Green

Eva Green mexe comigo. Falsa magra. Beleza sutil que ilumina mas não cega. Sua atração é completa pelo que emana de seu carisma e inteligência. Falsa magra. Olhos azuis enormes que vêem tudo e escondem muito. Olhar penetrante e emoções à flor da pele.  Uma inteligência que enrijece os bicos de seus peitos generosos. Franco-inglesa. Testa grande e cabeça oval. Perspicaz. Triste porém simpática. Aberta o grande prazer da conversação. Alta. Morena. Cabelos Longos. Nada tem contra blockbusters mas só faz o que acredita. Não teve filhos e se aproxima dos 40. Eva Green mexe comigo. Usando corpete na Inglaterra Vitoriana. Espiã. Morena de tez branca. Sorriso leve cheio de subtextos. Revolucionária. Existencialista. Vilã arrependida. Pernas longas. Pescoço que hipnotisa. Pitonisa. Ambiguidade moral. Falsa Magra. Rainha de Jerusalém. Camponesa. Feiticeira. Conexão com outras dimensões. Fúria Assassina. Flutua na sala. Francesa. Inglesa. Eva Green mexe comigo.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

pílulas de flashback

   Gosto de correr os olhos pelas laterais dos meus livros já lidos. Me faz lembrar de seus conteúdos e das épocas em que os li. Acessar pastas antigas, reconectar sinapses. Relê-los é mais raro. Assistir filmes de novo depois de muitos anos provoca uma sensação mais sensorial, me atrai mais. Ok, é mais fácil e bem mais rápido. Há tanta coisa que não li e quero ler, é raro eu reler um livro. Com exceção de Catatau, de Paulo Leminski, que releio a cada 10 anos.  O clima delirante, os  neologismos e a mistura de linguagens no fluxo de pensamento desse romance poético muito louco me inspiram para fazer música.  Evoca o que teria acontecido se René Descartes tivesse vindo com a Invasão Holandesa em Pernambuco, no Séc 17. O Filósofo pensa e existe no livro.  Pira com as cores no Brasil, suas matas, cachoeiras, pássaros, frutas. Faz uso de fumos locais, que dizem ter propriedades alucinógenas e prova seus efeitos por paredes de linhas sem pontuação.  Agora assisto Pulp Fiction pelo Netflix. Era tudo tão diferente a primeira vez que assisti. A nostalgia trouxe um outro sabor, a consciência das particularidades dos anos 90, no final do século XX. O filme tem estilo e ritmo. Telefones de discar.  Um amanhecer ensolarado em Los Angeles, que não conheço. Twang-Bar Guitars com reverbs de mola. Injeção de adrenalina no coração. Carrões rabos-de-peixe. Roteiro não-linear. Vida que segue. E vamos nessa.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Musicais

   Temos visto de dez anos para cá um crescimento exponencial do mercado de Musicais no Brasil. Inicialmente somente franquias estrangeiras e aos poucos textos originais, cada vez mais frequentes. Quanto à música, quase não se arrisca material original, a maioria dos espetáculos confia somente na ressonância no público de canções já conhecidas. O mercado aquece, mão-de-obra consegue emprego e isso é ótimo, mas a sensação de dèjá vu impera. Remakes de outras mídias e outras épocas são transpostas para esse peculiar formato onde no meio de uma conversa entre personagens  uma frase faz mudar a luz e de repente estes começam a dançar e cantar, seguidos pelos figurantes, garçons, policiais e babás, como se abrisse um portal para outra dimensão. Baseando-me nessas premissas, humildemente enumero algumas sugestões para musicais:

Pixote - O Musical
Bin Laden - O Musical
Presos em Guantanamo - O Musical
Maluf, o Construtor de ilusões - O Musical
Taxi Driver - O Musical
AI-5 - O Musical
Sexta-Feira 13 - O Musical
Rio Centro, Um Musical Explosivo
The Walking Dead- O Musical
O Rebuceteio - O Musical
Esperando Godot - O Musical
Saló - O Musical
Bilionários do Brasil - O Musical
Cantareira - O Musical
O Anjo Exterminador - O Musical
Apocalypse Now - O Musical

e o Grande Finale:
-Brasil X Alemanha - O Musical

quarta-feira, 16 de julho de 2014

"bom dia"

   O daydreaming, os insights espontâneos e outros anglicismos tão familiares não batiam mais à sua porta. Tudo fora substituído por maquinações do cotidiano. Sua imaginação outrora delirante se arrastava cansada pelo chão, assim como suas metáforas. Obsessão por opiniões alheias nada mais são que provas de vaidade. Se a inveja é uma merda, a vaidade o que seria?
   Lembrou de Moebius e seus castelos espaciais e monstros voadores.
 

sábado, 12 de julho de 2014

FLASH URBANO n.9 - Minhão

Vruuuuuum. Minhão. Passou c'minhão. Entrou no meu sonho. Sonhava com mãe. Hoje frio, ontem calor. Roubaram meu cobertor. Vruuuum. Mais c'minhão. Não durmo mais aqui. Muito barulho, muita zoeira. Ontem veio moça fazendo pergunta. Só respondi HUM. Não interessa. Tirou foto. Posei , mostrei minha boca banguela. Nhóoooooim! Moto. Muita moto. Já andei de moto. Gostei. Não gostei. Hoje frio. Sobrou pão. A moça deu chocolate. Cachorro comeu, passou mal. Bem feito, eu avisei.  Hum, carro de bacana, parece um caminhão pequeno. Faz Ruuuuuum. Hoje frio. Sono. Hoje mudança. Moça bonita, quero sonhar com ela. Hum. Pão, sobrou pão. Chocolate não. Hoje frio.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

ÁGUA

     São Paulo tem muita água. Qualquer obra que se faz, a água brota do chão. Cimentaram rios, constroem shoppings e estacionamentos sobre lençois freáticos. A mania de se concentrar tudo em obras faraônicas já se provou ineficiente, A arrogância dos fazedores de concreto não vai impedir que o chão se abra e a água cubras construções irresponsáveis. Cantareira é longe pra caralho. Como assim não tem água? Tá cheio de água em todo canto, é só furar o chão. Só o dinheiro explica . As empreiteiras mandam no país, são as maiores patrocinadoras de campanha dos dois maiores partidos. Políticos são fachada, são garçons que tiram pedido das corporações e podem ser substituídos rapidamente. A pior corrupção é dentro da lei, são contratos que definem para onde vamos. Não sabemos a quem recorrer, a culpa é sempre dos outros. Confundimos deputado com vereador, governador com prefeito. Não sabemos o que diz respeito a cada um. "Político é tudo ladrão" . "Não adianta." São ladrões de galinha que nos distraem das grandes negociatas milonárias, bilionárias e invisíveis. Continuamos tateando no escuro da nossa ignorância. Imagino como seria uma São Paulo toda cruzada por rios e árvores nas suas margens. Como já foi. Como devia ser.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

flash urbano n.8 - uma noite daquelas

     O Artista agora estava bem trincado e o queixo começava a ruminar feito um camelo. Já havia passado a fase falante, agora os olhos arregalados fitavam o teto. Um traço de luz surgia no horizonte, hora de fechar a cortina.  Seu companheiro de noitada olhava obsessivamente para o olho mágico, pressionando a pança na porta. Esquerda e direita, esquerda e direita. Na televisão, Law & Order.
De repente o Artista emerge de seu silêncio e pergunta:
-Acabou.
-Skol?
-Não.
-Putz...
-Eu sei quem tem.  - Tateou freneticamente na mesa de cabeceira até achar o telefone, enquanto trocava de canal. Parou em uma reprise de futebol. Copa do Mundo. O Massacre.
-Que merda, hein?  - e deu uma camelada com o queixo pra lá e pra cá, digitando o número.
-Pois é, nego. Deu ruim... - e voltou para o olho mágico.
-Alô? Betinho?


segunda-feira, 7 de julho de 2014

flash urbano n.7 - Evil Blonde

     Ela era bonita, bem bonita. Loura, corpão violão e um nariz tão perfeito que devia ser plástica, feita no mesmo médico da mãe. Queixo forte, um ar altivo de musa grega com samba no pé.  Cantava, dançava e representava. Vozeirão contralto metálico.  Ex-dançarina de programa de auditório, agora era corista de musicais.  Tirava selfies fazendo pose de gostosa enquanto aguardava a hora de entrar em cena. Talentosa e magnética, tinha um tempo de comédia foda e uma bunda de emocionar. Old school, sem anorexia. Com cintura. Peitos, perfeitos. Com certeza fodia muito, movimentos freestyle, repertório infinito, imaginação interativa.  Já passava dos trinta mas ainda recebia mesada. Namorava um prego que tinha a maior cara de corno. Trocavam declarações de amor em comentários do Facebook. Enquanto isso, ela anunciava a todos os colegas de trabalho que ia pegar fulano, que fulano era gato, fulano era gostoso, fulano tinha um pau enorme.  Mas fulano não queria nada com ela, que stalkeava diariamente seu perfil no Facebook com suas amigas  e colegas. Rastreavam perfis de amigos dele à cata de fotos e informações, até dos tempos do colégio. Diziam que ele era gay, que ele era bi, que ele era tarado, que era brocha, que era maluco. As supostas certezas mais variadas e contraditórias eram debatidas diariamente. Mas não era nada disso. Fulano era casado e não queria confusão. Fulano odiava aquele trabalho mas precisava daquele dinheiro. Fulano era estranho, preferia ficar sozinho, evitava o refeitório e às vezes até a máquina de café. Sofria de uma timidez quase patológica. Olhava para baixo para o nada em um ângulo de 45 º, imerso em seus pensamentos. Nunca sabiam quando estava viajando e quando estava prestando atenção.   Sua cota de malucas já tinha estourado. E colega de trabalho é roubada. Principalmente essa.  Ela salva bichinhos e maltrata pessoas. Faz Yoga, fala Namastê, gratidão, Ommm e o escambau e participa de linchamento virtual e blitzkriegs de bullyings . Seria o tipo de amante que, depois de dar o bote, entrega a cabeça do marido em uma bandeja para a esposa. Mas ele pagou o preço. Sentiu a crueldade vingativa da rejeitada até acabar o contrato de prestação de serviços naquele trabalho dos infernos, que quanto mais perto chegava do fim, mais lento o tempo parecia passar. Mas o tempo passou e nada aconteceu. O pior de tudo é que ele sabia que se ela chegasse junto mesmo em vez de só jogar confete, ele não poderia resistir.  Loura maldita.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Labirinto de Espelhos



 
    Era o começo dos anos 80, na época do show do Van Halen no Brasil. Estava em São Paulo para visitar minha bisavó e ir no Playcenter, passeio esperado há semanas. O Tivoli Park era sensacional, mas não havia comparação com a Montanha Russa do Playcenter. Ela tinha LOOP. 360º. Volta Completa. Desafiar a gravidade.   Mas o que me marcou mais foi o Labirinto de Espelhos.  Perder-se em corredores de ilusões e reflexos distorcidos. Entrei hesitante e consegui achar a saída em um minuto.
   - É só isso?Qual é a graça?
   Entrei de novo, decidido. Desta vez foi bem diferente. Desconfio estar lá até hoje.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O melhor

    O melhor não tem registro. O que fica para a posteridade é uma tentativa de recriar aquele momento que ocorreu sem testemunhas. O melhor solo de guitarra foi no terceiro take do ensaio naquele estúdio xexelento em Botafogo. O melhor argumento para um filme surgiu e evaporou durante uma conversa enquanto se ouvia o interlocutor, esperando a hora de falar. A maior história de amor que nunca aconteceu foi com a moça digitando o celular na fila da padaria, que não viu o rapaz olhando para ela imaginando como iria abordá-la. O maior romance de todos os tempos não passou do terceiro parágrafo. A realidade é o baixo relevo na página de trás de um bloco de recados, onde mal se vê o que sobrou das páginas arrancadas.

terça-feira, 1 de julho de 2014

flash urbano n.6 - acontece muito

   Uma noite ela disse chega, bateu a porta de casa sem se despedir e saiu de carro sem saber para onde. Onze horas, não devia ter mais trânsito. Mas o carro a levou como que no piloto automático para a Vila Madalena, em plena Copa do mundo. O cheiro de mijo e a gritaria babélica invadiu a janela do seu carro. O trânsito parou e assim ficou por vinte minutos.  Saco cheio do trânsito, do trabalho, da família, da cidade, e do disco hipsterzinho que rodava em loop há uma semana. Gringos bêbados gritavam ao passar pelo carro da bela morena. Não, não tem cigarro. Começou a chorar.  -Não, seu babaca, eu não tô de TPM, vai tomar no cú!