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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

personal poematic center

velhinhas verdes com cachorros cinzas
sentadas em bancos que imitam o banco da praça é nossa
mas não é uma praça e não é nossa
com a pós-modernidade não há quem possa
vamos estar gastando
vamos estar nos arrastando
entre a praça de alimentação e o W.C.
suprir na farmácia a deficiência de vitamina D
enquanto o sol grita lá fora



terça-feira, 3 de novembro de 2015

puro sentimento

esta manhã me levantei
pensando na sua pessoa
não havia amor perdido
não havia paixão à toa
era uma coisa boa
um sentimento puro
depois de sonhar com você
acordei de pau duro

terça-feira, 27 de outubro de 2015

contrastes

falam que sou fino
falam que sou grosso
tempestade é destino
calmaria, alvoroço

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

lembraram do céu azul

Entre escombros futuros
reconhecer-se-ão de longe
sorrisos constrangidos
-vamos tomar um café?
mas não existem mais cafés
ela ajeitará os cabelos atrás da orelha direita
ele coçará a nuca
ontem teve eclipse
o primeiro pós-apocalipse
lembraram do céu azul
dizem que teve uma colheita no sul
assuntos pretextos
momentos bissextos
bate rebate coração
combinarão de se telefonar
mas não há mais operadoras de celular
no lugar das antenas, buracos no chão
fila da água
fila do pão
roupas rasgadas
fogueira de violão
-nossa, tão bom te ver
-tão bom te ver também
-a noite já vem, ficar na rua é perigoso
-tem razão
despedem-se como se fosse ainda o tempo da fartura
cada um pro seu lado
respectivos abrigos lotados
o acaso cruzará seus caminhos outra vez

ou não

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

língua inventada

como forma de vingança
apelava ao silêncio
ainda que por extenso
este não se aplicasse
como se gritasse pelas pontas dos dedos
uma coleção de segredos
em uma língua inventada
que ninguém entendia nada

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Ciclos

     Acreditava em ciclos. Escolhera acreditar em ciclos. A ilusão da existência de padrões serve como um placebo para a vida e seus descaminhos. Escolher acreditar que uma pílula de açúcar contenha o remédio de que precisa. E essa fé promove processos químicos em seu cérebro que realmente melhoram sua condição. Conseguia felizmente com que a consciência do processo não diminuísse seus efeitos.
     Os ciclos de sete anos pareciam uma bom sistema. O número sete carrega uma mística misteriosa da qual se ouve falar vagamente mas não se sabe detalhes. Ciclos pessoais, profissionais, revolução astral, o escambau. Ceticismo pode ser sexy mas é muito linear. Tudo tem explicação. Tinha simpatia pelo caos, a evolução vinda da tentativa e erro através dos tempos. Darwin, Dawkins, Namedroppings. Era amigo do caos, convivia com o caos. Mas preferia desconfiar de uma ordem secreta. O Karma é uma ideia muito sedutora, muito mais do que o vaidoso culto da personalidade promovido pela Reencarnação. Um bumerangue cósmico acende referências de quadrinhos da Marvel dos anos 60. Um Karma orgânico, autogerido como um coral marinho. Uma colônia. O Universo como um organismo. Sem comissão julgadora. Punições atravessando gerações lhe pareciam uma ideia ingênua. A consciência de um erro pode ser sua própria punicão. A consciência do acerto como porta de entrada para um grande salão iluminado e silencioso. A paz interior como recompensa pela paz interior. Felicidade é silêncio. Todas as religiões seriam  metáforas, fábulas com moral e não manuais de instruções para a vida. A interpretação de texto como porta para dimensões superiores de consciência. A palavra como mágica. A palavra escrita como tatuagem. A palavra dita como presença física. Um corpo de som. A palavra cantada como hipnotismo.
      Escolhera acreditar na paixão, essa obsessão sazonal que tanto foi reverenciada na literatura e que, de tanto ouvimos falar de seus efeitos, aprendemos a criá-la, alimentá-la e senti-la. Ao mesmo tempo que identificava seus processos e suas distorções, abraçava seus efeitos como se inevitáveis. Comprando um ingresso para a montanha russa.  Não sabemos de nada, mas podemos escolher a rádio que toca enquanto dirigimos nossos carros na estrada da vida. Clichês e metáforas com sua eficiência implacável , ainda que mal-vestidos.
       Tinha uma noção superficial das escolas de filosofia, o pouco que lera apontava direções que já havia pensado por si só. Secretamente se parabenizava e preferia ler ficção, poesia e história. Mas o Estoicismo despertava sua simpatia. A vida não lhe deve nada, meu amigo.

terça-feira, 7 de julho de 2015

poesiazinha

venho por meio destas mal traçadas linhas te pedir que abandone meus pensamentos
venho por meio destas mal traçadas linhas te pedir que abandone meus pensamentos
meus pensamentos detentos
desalentos tantos

mal chegaste e já te vais
bem te quis, se mal te fiz
foi sem querer
se mal me fizeste
não sei se o quiseste

venho do leste, tu vens do oeste
nos encontramos ao norte e ao sul
eu nunca disse i love you
nunca o disseste tampouco

venho por meio destas mal traçadas linhas exigir que abandone meus pensamentos
deste jeito estou ficando louco
nossos encontros nas vias de fato em breve não caberão nos dedos da mão
nunca fazemos cenas
cartas sempre na mesa

as palavras que lavras
as notas que tocaste
as notas que edito
as palavras que cometo
meto meto meto

gostosa
voluntariosa
linda quando goza
depois tira onda com a minha cara
minha cara 
minha tara
balzaquiana





quinta-feira, 26 de março de 2015

improviso matinal

Trendsetting
low selfsteem
soneca, atchim
branca de neves disso
"gente de bem"
cheia de aspas
falando mal
coçando caspa
vendo no outro o veneno que tem em si
tropecei na casca de banana
caí de pé
não quero saber
mas fico sabendo
quero fugir do assunto
que continua voltando
essa cidade vai nos engolir
mas antes vai sacudir
vai espremer
a inveja
o medo
o degredo
o segredo imaginário
divulgado no noticiário
holofotes
snapshots
cachalotes
huguenotes
rimas internas
influência do rap
metalinguagem é um vício teimoso
as palavras me vem aleatórias
sem sentido
escolha o seu
não fique zangado
não seja dengoso
nas esquinas intrigas otárias
a "verdade" fica sendo o que parece, não o que é
vale o que pega na boca do polvo
fatos não tem nada a ver com isso
deixa disso
não tenho nada com isso
coitado
"gente de bem"
adora um linchamento
depois do lanche da tarde
antes da nova novela velha
que acaba de estrear
uhuuu




sábado, 31 de janeiro de 2015

improviso

coragem para mergulhar num sentimento
que aumenta ao redor enquanto tudo mais fica menor
poesia no computador é uma coisa estranha
o tec tec não ecoa
com o erro não se negocia mais
editar é fácil demais
a rima nos ensina a sina
rima interna quebra perna
metalinguagem obsessão
camisa de força
macacão sem dono
eu não sou ludista
mas há encantos
no tempo dos quebrantos
dos santos
das marionetes
das vedetes
das fadas
dos monstros
dos vilões
dos alçapões
no fluxo do pensamento
na escrita a mão
mas a caneta também foi feita à máquina
plástico, tinta e tungstênio
tinta é veneno
tinta é remédio
acabou o papel
quimera quem dera vir me visitar
na minha sala de mal estar noturno
bota e coturno nunca usei
pé de chinelo eu sou eu sei
não sou do tempo do nanquim
e agora o que me diz?
sem tecnologia
só vale o que se fala
somente o que estala
na língua
que acaricia
e xinga
e ignora
e estica e enrola
e corrobora com toda intenção
consciente ou não
acabou-se o que era la dolce vita
la fonte di trevere
no parlo niente
escrevo de memória
invento alguma história
nesta madrugada
verborragia propedêutica
hermenêutica
ethos, pathos
não sei o que quer dizer nada de deixa disso
faço um feitiço
toco de ouvido
play by heart
repeat from the start
you foxy foxy lady
minha oitava insistente
seus dentes
seus cachos
suas ancas
que agarro nacos
preciso cortar as unhas
preciso conhecer a cataluña
seus dentes secos
sua luz quente
flores dos seus ombros
brotarão dos escombros
como eram lindos meus navios que irei incendiar





sexta-feira, 27 de junho de 2014

pessoas

pessoas transparentes
atravesso seus corpos
leio suas mentes

pessoas enraivecidas
espumam entre dentes
salgam suas feridas

pessoas interessantes
somam camadas
silêncios diamantes