sábado, 25 de junho de 2011

em busca do não sei o que 3

   O primeiro boteco que apareceu não atendia às especificações da minha fantasia: era muito limpo. Tenho que andar mais. Quero um bar com gente mais feia,com dentes em pior estado. É isso que eu preciso para o meu romance. Vou falar sobre o submundo, as cachaças vagabundas , as putas de rua e os alcoólatras sem dinheiro. Vou falar sobre os sonhos derramados na pia e os amores sujos da Boca do Lixo. Já está tudo pronto na minha cabeça, só falta botar no papel. Eu nem precisava fazer pesquisa,mas acho que circular in loco pelo ambiente do qual quero falar  vai trazer mais veracidade às minhas impressões. Além de poder ouvir conversas alheias,essencial para a criação artística.
   Três quarteirões depois,aparece o bar perfeito. Não tinha azulejo português nem azulejo nenhum. As paredes eram de um verde escuro piscina suja .Não tinha cerveja Serra Malte .Aliás,um apoio dessa marca seria bom para o lançamento,tenho que ver isso. Pedi uma Brahma mesmo. Tinha três pessoas além de mim. O primeiro ,um caboclo com uns cinquenta e tantos anos com um boné cinza ,bebia cachaça sozinho e,pelo seu estado,já há algum tempo. Será que eu puxo assunto? Eis que toca meu telefone celular,esse aparelho dos infernos que nos desconcentra nos momentos mais puros. Minha mulher quer saber onde estou e é pra eu voltar logo pra casa agora.
-Tá bom ,meu amor,já estou indo.
   Lá em casa é assim,a última palavra é sempre minha.

3 comentários:

  1. Das pontas... tô acompanhando e adorando sua pesquisa in loco...
    Da próxima vez que vier ao Rio traz a Serra Malte e senta numa calçada da Lapa com seu isopor... aí sim seu livro sai da cabeça...
    Valeu!
    Marcinha Villaça

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  2. Certa vez um individuo embreagado, chegou a um boteco onde meus amigos e eu íamos após as provas da faculdade, as pessoas insultaram o cara que ficou sentado em um canto. Curiosa que sou fui conversar com o "coitado" (Santa ignorância chamá-lo assim, já que logo após alguns minutos de conversa descobri que o cara era poliglota, enquanto eu arrastava meu Português). Aprendi um bocado de coisa aquela noite...

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  3. muito obrigado por lerem o que escrevo! mas quero dizer só uma coisa: ESCREVER NA PRIMEIRA PESSOA NÃO É NECESSARIAMENTE AUTOBIOGRÁFICO!
    por exemplo,essa série "em busca do não sei o que" é tudo inventado!

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