sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Gesto Mágico

   Finalmente conseguira. Depois de livros, tutoriais no youtube, dicas de gurus de colegas de trabalho e anos de tentativas fracassadas, agora sabia que havia conseguido o que tanto almejara. Estava consciente durante seu sonho. Sabia que estava sonhando. Poderia fazer qualquer coisa que imaginasse. Fez um pequeno teste, coçou o nariz. Funcionou. Quis coçar o nariz e o fez. Sim! Estava sentada em uma cadeira no meio de uma sala vazia. Parecia um estúdio de fotografia. Pé-direito alto, paredes brancas, uma delas com fundo infinito. Havia adquirido superpoderes, era a hora de usá-los. Quis um telefone celular para avisar as amigas, pelo menos a Lisa. Não, isso seria um desperdício de superpoderes , poderia fazê-lo quando acordasse. Quis um vaso de flores sobre uma mesa. Em um piscar de olhos, materializaram-se na sua frente. Exatamente como quis: Uma orquídea amarela rodeada de flores do campo. YES! Levantou-se da cadeira e deu uma volta ao redor da sala, que parecia maior. Estava consciente durante o sonho mas seu subconsciente continuava trabalhando. Não havia antes essa rachadura nessa parede. Consertou-a imediatamente. Lembrou-se da mexida do nariz da série "A Feiticeira", que tinha visto no Youtube.  Havia criado seu próprio gesto mágico, que consistia em piscar os olhos ao mesmo tempo que avançava com a  cabeça em um gesto curto e rápido. Assim que abria os olhos, seu desejo se materializava. Chega daquela sala. Queria o espaço sideral. Depois do gesto mágico, estava rodeada de estrelas, mas ainda estava sentada na cadeira. Ao longe via se aproximar sua mãe. O rosto era da Cher, mas sabia que era sua mãe. Coisas de sonho. Não queria a Cher, piscou e devolveu o rosto original de sua mãe, que já estava a 10 metros de distância , com o braços abertos e uma expressão que parecia dizer:
  -Filha, você fez merda mas eu te amo e te perdôo.
   Quis sair de lá. Sua mãe compreenderia. Aliás, não era sua mãe, era apenas uma projeção do subconsciente. Dane-se, queria dançar. Precisava dançar. Imaginou uma pista de dança tocando Daft Punk. One More Time, que já ficou vintage. Aliás, com o próprio Daft Punk tocando na festa. Imaginou um palco, luz de discoteca incluindo bola de espelho. Mirror Ball. Podia ter o John Travolta dançando com a Rihanna. Fariam um belo casal. Pronto. Um grupo de 5 amigas tipo BFF, uns 50 figurantes alto-astral e aquele cara que ela tinha ficado ano passado e nunca mais tinha visto. Qual era o nome dele mesmo? Não importa. Lembrava da cara dele e que beijava bem. Piscou os olhos e tudo que havia imaginado materializou-se na sua frente. Era bom demais. Suas amigas a saudaram com gritos de alegria e abraços coletivos saltitantes. One More Time bombava no som Surround. Luzes psicodélicas as envolviam em um clima de pura alegria. Superpoderes. Ao longe, John Travolta - agora de cabelo black power - rodopiava com Rihanna pelo salão alternando movimentos dos séculos XX e XXI. No bar, Palmirinha fazia bons drinks, ao lado do Loro José e o porteiro Severino, que tinha a cara de José Dirceu. Seu subconsciente continuava fazendo das suas. Eis que abre a porta e quem entra? Aquele cara gato que ela tinha pegado no ano passado mas não sabia o nome. Eles se olharam e rolou um clima. Ele começa a andar em sua direção, seu coração começa a bater mais rápido. De repente a cara dele vira a de um cocker spaniel com a língua de fora.  John Travolta ainda girava com Rihanna pelo salão mas agora em uma velocidade sobre-humana. One More Time repetia mais uma vez. Rihanna se transforma em uma Louva-a-Deus gigante with sexy dance moves. John Travolta solta um grito de mocinha em filme de terror e sai correndo. Chega desse cenário. Uma praia no Tahiti seria a próxima parada. Fez o gesto mágico. Seria uma longa noite.

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