Ao acordar de um cochilo no sofá em uma tarde fria de domingo, notou uma caixa no meio da sala. Não temia seu aparecimento sem explicação, apesar dele estar sozinho e o cochilo, de acordo com seu relógio, ter sido de 10 minutos. Temia o também inexplicável sentimento de familiaridade que a caixa que nunca havia visto lhe despertava. Como se já a conhecesse de outras vidas. Sua superfície lisa de um azul desbotado emitia uma leve luz também azul e um som grave e fraco que parecia um motor. Uma espécie de zumbido. Por alguns segundos olhou pela janela e viu a mesma luz saindo de muitas janelas dos prédios à sua volta. Muitas não. Todas. O que seria isso? Que caixa interessante. Uma paz que não conhecia começava a lhe envolver. O zumbido grave aumentava aos poucos, alcançando uma dimensão que não havia percebido antes. A cidade zumbia azul. Ele começou a emitir um som MMMMMMM e tinha cada vez mais dificuldade em piscar os olhos. Sua mente aos poucos lhe abandonava. A luz da tarde lentamente morria e ele não tirava os olhos da caixa. Ele estava hipnotizado. Nada mais percebia, além de uma paz que ele queria que continuasse. A noite chegava e avançava e ele continuava com os olhos fixos na caixa azul. Não sentia fome tampouco. Seu relógio continuava marcando as horas que passavam. A luz começou a ficar mais forte.
Ouvia-se batidas de carro nas esquinas. O zumbido e o MMMMM ficavam cada vez mais altos. A luz azul cada vez mais forte começou a dissolver os contornos da caixa, tornando-a uma grande bola azul. Nuvens de chuva azuladas começam a derramar água por toda a cidade, sem ninguém prestar atenção. A manutenção deficiente faz o sistema elétrico da megalópole entrar em pane em várias áreas. A luz azul subitamente se apaga.
Acorda do transe, surpreso por já estar de noite. A caixa não estava mais ali, deixando uma espécie de saudade.
-Sonho estranho!
Salvo pelo apagão.
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