sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Luz Azul

    Ao acordar de um cochilo no sofá em uma tarde fria de domingo, notou uma caixa no meio da sala.  Não temia seu aparecimento sem explicação, apesar dele estar sozinho e o cochilo, de acordo com seu relógio, ter sido de 10 minutos. Temia o também inexplicável sentimento de familiaridade que a caixa que nunca havia visto lhe despertava. Como se já a conhecesse de outras vidas. Sua superfície lisa de um azul desbotado emitia uma leve luz também azul e um som grave e fraco que parecia um motor. Uma espécie de zumbido. Por alguns segundos olhou pela janela e viu a mesma luz saindo de muitas janelas dos prédios à sua volta. Muitas não. Todas. O que seria isso? Que caixa interessante. Uma paz que não conhecia começava a lhe envolver. O zumbido grave aumentava aos poucos, alcançando uma dimensão que não havia percebido antes. A cidade zumbia azul. Ele começou a emitir um som MMMMMMM e tinha cada vez mais dificuldade em piscar os olhos. Sua mente aos poucos lhe abandonava. A luz da tarde lentamente morria e ele não tirava os olhos da caixa.  Ele estava hipnotizado. Nada mais percebia, além de uma paz que ele queria que continuasse. A noite chegava e avançava e ele continuava com os olhos fixos na caixa azul. Não sentia fome tampouco. Seu relógio continuava marcando as horas que passavam. A luz começou a ficar mais forte.
    Ouvia-se batidas de carro nas esquinas. O zumbido e o MMMMM ficavam cada vez mais altos. A luz azul cada vez mais forte começou a dissolver os contornos da caixa, tornando-a uma grande bola azul.  Nuvens de chuva azuladas começam a derramar água por toda a cidade, sem ninguém prestar atenção. A manutenção deficiente faz o sistema elétrico da megalópole entrar em pane em várias áreas. A luz azul subitamente se apaga.
   Acorda do transe, surpreso por já estar de noite. A caixa não estava mais ali, deixando uma espécie de saudade.
-Sonho estranho!
   Salvo pelo apagão.

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